Com o terceiro Carnaval do Brasil, Florianópolis possui uma história cativante sobre essa tradição, conheça mais:
Florianópolis não vai ter desfiles no Carnaval deste ano, porque a pandemia de Covid-19 ainda não permite aglomerações, mas a história das folias de Momo na cidade é muito rica e pede uma reflexão sobre o estágio a que chegou. A capital catarinense já teve o terceiro melhor Carnaval brasileiro – dito não por ilhéus bairristas, mas pela imprensa do Rio de Janeiro.
A tecnologia dos carros de mutação, um pioneirismo local, foi exportada para outras plagas e ajudou a melhorar a performance das escolas de samba do Rio de Janeiro. E a antiga espontaneidade dos festejos na Ilha, que misturava marchinhas, o humor demolidor das sociedades carnavalescas e a cultura popular (boi de mamão, cacumbi, pau de fita), fez de Floripa uma referência para o país.
O primeiro desfile de Carnaval na cidade do Desterro, nome de Florianópolis até 1894,data de 1858. No entanto, dados levantados pelo pesquisador e bibliotecário Alzemi Machado denunciam que em 1832 já havia a preocupação com o caráter violento do entrudo a ponto de a Câmara Municipal proibir esta prática na cidade.
Uma consulta aos jornais de meados do século passado mostra que a escola de samba Narciso e Dião desfilou no Carnaval de 1947, o que joga uma dúvida sobre o papel de precursora atribuído à Protegidos da Princesa, criada em 18 de outubro de 1948, segundo o próprio site da agremiação.
Como em outras cidades e Estados, aqui também o Carnaval começou nas ruas, envolvendo a população mais simples, e foi incorporado pelas elites como instrumento de extroversão e entretenimento. Ao mesmo tempo, há máculas que empanam o brilho dessa história incomum.
Uma delas é a perda da memória do Carnaval – como de resto acontece com outras manifestações, instituições e espaços públicos no Estado. O Museu do Carnaval, criado em 1995, na gestão do prefeito Sérgio Grando, foi destruído por enchentes e pela incúria de administradores sem compromisso com o passado da cidade.
Nenhuma obra que resgata a trajetória da folia sai da gaveta porque esta parece ser uma contribuição secundária para a cultura local. O bibliotecário Alzemi Machado tem pronto o livro “O Carnaval das Grandes Sociedades em Desterro/Florianópolis 1858 a 2011”, que não encontra patrocínios e nem apoio oficial para a edição. O pesquisador se tornou uma fonte importante sobre o tema, em especial quando o foco são as sociedades carnavalescas.
Coordenador da Hemeroteca Digital Catarinense, na Biblioteca Pública do Estado, ele mergulhou na história do Carnaval usando fontes primárias e ouvindo personagens que protagonizaram os fatos, como os responsáveis pelos desfiles dos carros de mutação e das sociedades vinculadas a famílias tradicionais da Ilha.
“Essa técnica [dos carros de mutação] já deveria ter sido tombada como patrimônio imaterial de Florianópolis”, diz Alzemi. Ao contrário, vem sendo cada vez mais apagada da memória coletiva.
Carnaval com a força da cultura popular
Se as origens do Carnaval podem ser buscadas no Egito e na Roma antiga, os primeiros registros no Brasil aparecem em Olinda (PE), em 1533, com a prática do entrudo, que consistia em jogar água, bolas de cera, restos de alimentos e detritos em quem se quisesse – especialmente em escravizados, depois que os africanos passaram a responder pela grande mão de obra no país.
No ambiente doméstico, familiar, os atingidos não podiam revidar. Em outra variante, nas ruas, era uma diversão cultivada por pessoas pobres, alforriados e escravos, e o revide era consentido. Com o tempo, foi abolido, embora permanecesse como prática informal durante quase todo o século 19.
Como era comum, a Ilha de Santa Catarina importou os bailes de fantasia e máscaras do Rio de Janeiro, que por sua vez era tributário das modas da França e da Itália.
No Desterro, em 1858, surgem a Sociedade Carnaval Desterrense, que realiza o primeiro desfile de rua com fantasias, a Sociedade União Carnavalesca e a Sociedade Harmonia Carnavalesca, que organizam bailes.
Com o século 20, Florianópolis adotou os bailes, os desfiles, os blocos de rua, os corsos(cortejos com veículos decorados), cordões, ranchos e, enfim, as escolas de samba.
A praça 15 de Novembro era o epicentro da folia, que também incluía grupos de cacumbi e boi de mamão, ou seja, manifestações da cultura popular que tornavam o Carnaval florianopolitano absolutamente original, diferente de outras capitais e Estados da federação.
A dúvida sobre qual foi a escola pioneira
A questão sobre qual foi a primeira escola de samba de Florianópolis sempre gerou polêmicas, embora se tenha convencionado que a Protegidos da Princesa é a pioneira entre as grandes agremiações do Carnaval da cidade. Uma consulta a jornais como “A Gazeta” e “Diário da Tarde” no final da década de 1940 coloca um ponto de interrogação nesse debate.
“Será um acontecimento para o carnaval de 1947 a saída duma Escola de Samba com a direção dos foliões catarinenses Tião [sic] e Narciso”, escreveu “A Gazeta” de 12 de fevereiro de 1947. E complementou: “Esta Escola por certo tomará parte na Batalha de Confeti que será travada amanhã, conforme já noticiamos, no aristocrático bairro da Praia de Fora”.
É importante ressaltar que a atual rua Bocaiúva (do Campo da Liga até a esquina da avenida Trompowsky) foi, durante muitos anos, o palco dos desfiles, incluindo a passagem de carros enfeitados de famílias abastadas da cidade.
Em 11 de fevereiro de 1948 o “Diário da Tarde” noticiou: “Durante os três dias de carnaval apresentaram-se nas nossas principais ruas vários blocos que foram bastante aplaudidos, entre eles se destacaram pelo conjunto e apresentação a ‘Escola de Samba Narciso-Dião’; ‘Filhos do Mar’; ‘Moacyr e Sua Escola de Samba’ e ‘Protegidos da Princesa’”.
Se a Protegidos é do final de 1948, instala-se a dúvida: ela poderia ter existido como agremiação antes da criação oficial, em outubro daquele ano. Na imprensa da época ainda não se fazia uma distinção clara entre blocos, sociedades e escolas – estas surgiram inspiradas na pioneira Deixar Falar, nascida nos anos de 1920 no Rio de Janeiro.
“A Gazeta” de 3 de março de 1949 dá conta da vitória de Dião e Sua Escola de Samba no Concurso Marte, promovido anualmente por uma empresa que fabricava o refrigerante Cola Marte no bairro José Mendes. Como estava no regulamento, o grupo fez louvores à qualidade da bebida, mas também se destacou por criar uma letra inédita para o certame.
O segundo prêmio coube à Protegidos da Princesa, o terceiro à Unidos do Chapecó e o quarto aos Fazendeiros do Arraial. De qualquer maneira, a Protegidos, que surgiu pequena como as outras, se tornou a maior vencedora do Carnaval de Florianópolis (25 vezes) e é citada como a que mais ganhou títulos entre as escolas de samba de todo o Brasil.
Um de seus criadores, o servidor público aposentado Sílvio Serafim da Luz, é o único fundador da agremiação ainda vivo. De sua parte, Narciso (músico) e Dião (operário) estão nas crômicas da cidade e na memória de antigos carnavalescos, além das velhas guardas das escolas que resistiram ao tempo, incluindo a Embaixada Copa Lord, rival da Protegidos.
Karoline Moura é formada em Design pela PUC PR, Social Media e Copywriting de ecoturismo, atua tanto em empresas de viagens e turismo, como editora no portal ClicSC.
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