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Neonazista recrutado por jogos virtuais é preso em Porto Belo

Casos de jovens neonazistas estão cada vez mais frequentes e, segundo a Polícia Civil, jovens são recrutados por extremistas ainda na adolescência

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Foto: Polícia Civil
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Nesta sexta-feira (17), a Polícia Civil de Santa Catarina, por meio da Delegacia de Repressão ao Racismo e a Delitos de Intolerância da DEIC, prendeu um jovem de 19 anos em Porto Belo/SC. Ele é acusado de praticar e incitar a discriminação contra negros e judeus, além de fazer apologia ao nazismo na internet.

As investigações apontam que ele era inclinado ao extremismo e procurava, consumia e difundia conteúdo de ódio, consumindo e demonstrando interesse por “ataques terroristas de lobo solitário”. Segundo a polícia, o jovem foi recrutado por meio de jogos virtuais.

O preso já havia sido alvo de um mandado de busca e apreensão em sua residência em agosto de 2022, quando seus equipamentos computacionais portáteis foram apreendidos para análise. Ele também responde por crime de “stalking” contra uma adolescente no estado do Paraná.

Após a diligência, o jovem foi encaminhado ao Presídio Regional de Tijucas. Ele já foi denunciado pela 40ª Promotoria de Justiça da Capital.

Polícia Civil explica o problema:

A Polícia Civil divulgou uma nota, juntamente com os dados sobre o caso, explicando como ocorre o recrutamento via internet e jogos virtuais, que tem se tornado um problema sério no Brasil e no mundo, com a crescente do neonazismo, especialmente em adolescentes e jovens do sexo masculino. Confira a nota:

“O jovem indiciado é um produto do mais recente modelo de recrutamento de grupos neonazistas. Hoje é – sem qualquer dúvida e pela própria admissão –, um neoazista. Mas o caminho que esse rapaz fez para se tornar quem é deve ser conhecido pelo Brasil, porque é hoje o modelo de recrutamento mais usado por extremistas.

Como muitos adolescentes, o indiciado era viciado em vídeo-game. O que muitos pais ignoram ou desprezam é que esses jogos eletrônicos permitem conversas em grupo enquanto acontecem. É aí que entram os nenoazistas. Eles formam pequenos grupos de hábeis jogadores que, eventualmente, permitem que um outro jogador participe de seus jogos. Aqui estamos falando de jogadores muito novos, pré-adolescentes ou adolescentes. Sempre meninos.

Quando o grupo neonazista consegue seu potencial novo membro no jogo começam a destilar piadas racistas, antissemitas, misóginas, homofóbicas nos chats. Os hábeis jogadores riem das piadas e escalam as crueldades nos comentários. Deixam claro que, para ser parte do grupo de jogadores bacanas, racismo, antissemitismo, misoginia, homofobia é lugar-comum, é o aceitável. O inimigo é todo aquele que contrapõe a sua ideologia, que não possui características daqueles que consideram guerreiros históricos para a raça ariana, como os vikings e nazistas.

Quando esse discurso é normalizado, entra a segunda parte do recrutamento, que é transformar o menino num “LARP”, que vem de Live Action Role Playing, termo sequestrado dos jogos RPG. Em português mal traduzido seria um “brincar de atuar ao vivo”. O recruta é convidado a ser um LARP em redes sociais, a brincar de ser nazista.

Neonazismo não é brincadeira, quando o recruta aceita, ele já não é mais um recruta, é um neonazista.

O papel do LARP é horrorizar a todos, focando o seu ódio contra os grupos vulneráveis.  Quanto pior, mais violento, mais nojento for o conteúdo da rede social do LARP, mais bem sucedido ele é. O objetivo, que o próprio LARP não sabe, é anestesiá-lo ao horror. Fazer com que ele aceite, divulgue e, com o tempo, sinta prazer em propagandear todo tipo de imagem ou discurso de extrema violência.

Não é raro descobrir nos computadores desses rapazes imagens de pedofilia e zoofilia. Elas são enviadas pelos mentores “neonazi” para que os LARPS publiquem em redes sociais. Os recrutadores, também não raramente, são pedófilos – por isso a facilidade de conseguir esses vídeos.

Então, além de vídeos de Hitler, imagens de fascistas, discurso de supremacia branca, a rede social do LARP vai também ter outros horrores. Anestesiado ao horror, ele vai começar a replicar esse horror na vida real.

O jovem indiciado possui em seu histórico criminal casos de violência na escola, quando era adolescente. Realizava publicações racistas e antissemitas há vários anos. Enquanto adolescente, foi registrado um caso em que o investigado agrediu uma professora dentro da sala de aula, com um soco na boca. Outro fato relatado daquela época, é que o investigado não aceitava ter aulas com um professor negro.

Sua primeira conta que alcançou “fama” como LARP foi de 2020. Ele tinha 16 anos. Foi combatido, denunciado e ficou conhecido no Twitter como nazista. Ele sempre voltava alguns meses depois. Sempre escalando em violência. Ele, como LARP, foi extremamente eficiente. Fez exatamente o que seus recrutadores esperavam. Os recrutadores, desde 2020, também “brincavam” de expor o recrutado. O chamavam de “pardo”, mostravam fotos do recruta e de seus cabelos crespos. Isso também não é por acaso. São os neonazistas lembrando que o rapaz ainda não é bom o suficiente para ser integrado entre os verdadeiros arianos, ainda é um “pardo”.

Com o lembrete, o jovem recruta escalava em violência, ele precisava ser um melhor neonazista para ser aceito. Precisava ser pior. O jovem indiciado tem ascendência árabe. Nas redes sociais trocou o sobrenome do meio, português, por Carlotto, para ter alguma herança italiana, nem que fosse fictícia.

A prisão do jovem indiciado tem um efeito colateral pedagógico e preventivo. Hoje ele não é inocente. Nem por um segundo. Foram escolhas que ele fez em nome da vaidade, para ser reconhecido como um diligente neonazista. O pedagogismo advém de conhecer o caminho dele e impedir que outras crianças sigam essa mesma jornada.

Os recrutadores do jovem indiciado devem estar extremamente satisfeitos com o sucesso do produto que criaram. Devem usar a prisão dele como forma de transformá-lo em herói da causa. O que eles ignoram, é que o caso de sucesso deles, também vai ser a queda da bolha em que eles se encontram. Eles se imaginam ainda anônimos nos chats de Discord, Telegram e no video-game.

Acham, com arrogância, que seus passos não são acompanhados. A repressão às condutas do jovem indiciado é o começo de uma repressão contra toda uma bolha neonazista.  É uma lição que não tem nada de agradável em ser aprendida, mas que precisa ser ensinada. Em toda casa. Em toda escola. Em todo o Brasil”.

Fonte: Clicsc

Sobre o autor:
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Clicsc é um portal com notícias e reportagens sobre o dia a dia de Santa Catarina fundado em 2017.
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