Dois anos após o horrendo ataque que chocou Saudades, uma cidade no Oeste de Santa Catarina, as feridas ainda estão abertas. Naquela manhã fatídica de 4 de maio de 2021, cinco vidas foram abruptamente tiradas – três crianças e duas educadoras. A cidade de pouco mais de 10.000 habitantes aguarda, agora, o julgamento do autor do crime, que ocorrerá nesta quarta-feira (7), em Pinhalzinho, município também localizado na região
Risolete Fernandes de Barros, avó da jovem vítima Anna Bela F. de Barros, não contém sua angústia. Ela diz: “Os únicos condenados são as famílias que perderam alguém naquele dia.” Ela descreve a inevitável saída futura do agressor da prisão como mais uma facada no coração.
Entre as vítimas, estavam Sarah Luiz Mahle Sehn, Murilo Massing, ambas com menos de dois anos de idade, a assistente Mirla Renner, de 20 anos, e a professora Keli Anicevski, de 30 anos. O responsável pelo ataque, que utilizou um facão como arma, tinha apenas 18 anos na época.
Com o julgamento se aproximando, a apreensão toma conta das famílias das vítimas. Muitos parentes optaram por permanecer em silêncio, evitando entrevistas por causa do estresse emocional que a data provoca. Entretanto, Risolete expressa confiança de que haverá condenação, embora esteja ciente dos possíveis recursos judiciais por parte do agressor.
Defesa pediu mudança no local do julgamento
A defesa do acusado gerou polêmica ao pedir a mudança do local do julgamento, argumentando a possível parcialidade dos jurados devido ao seu conhecimento do caso e semelhanças profissionais com algumas vítimas. Contudo, o pedido foi negado pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC).
Adicionalmente, a defesa tentou evitar o julgamento pelo Tribunal do Júri, alegando que o acusado estava mentalmente incapaz durante o ataque. Esta solicitação também foi recusada pelo TJSC.
O advogado de defesa, Demetryus Eugenio Grapiglia, manteve a maioria dos detalhes da estratégia de defesa em segredo, mas expressou a esperança de que o júri considerasse todas as informações ao decidir o destino do acusado.
Espera-se um julgamento extenso. No primeiro dia, seis vítimas, oito testemunhas de acusação e quatro de defesa serão ouvidas. A seguir, acusação e defesa terão a oportunidade de apresentar seus argumentos. Por fim, cabe ao júri decidir o veredicto deste caso que marcou de forma tão profunda a cidade de Saudades.
Relembre o caso
Em 4 de maio de 2021, a serenidade da cidade de Saudades foi brutalmente interrompida. Um jovem de 18 anos, carregando uma adaga, infiltrou-se na creche Pró-Infância Aquarela. De forma brutal, ele atacou uma sala onde pequenos dormiam. Naquele fatídico dia, um bebê de um ano e oito meses foi o único sobrevivente entre as crianças após o jovem ter atacado uma professora, uma agente educacional e quatro crianças.
Não demorou muito para que as autoridades detivessem o culpado; o homem foi preso em flagrante no mesmo dia do ataque. As investigações subsequentes revelaram um cenário ainda mais sombrio. O jovem parecia ter se inspirado em notórios ataques a escolas, como o massacre de Suzano em São Paulo e o ataque de Columbine nos EUA. Atualmente, ele permanece confinado em um hospital psiquiátrico localizado em Florianópolis.
O peso da justiça se faz sentir sobre o réu. Ele enfrenta acusações de ser responsável pela morte de cinco pessoas – incluindo duas professoras e três bebês. Além disso, é acusado de tentar tirar a vida de outras 14 pessoas naquele dia em maio de 2021. O Ministério Público, avaliando a magnitude e a crueldade dos crimes, categorizou os 19 delitos de homicídio (consumados e tentados) como triplamente qualificados.