Pedreiros que atuam nas cidades de Itapema, Porto Belo e Balneário Camboriú, localizadas em Santa Catarina, possuem os maiores salários do Brasil, de acordo com o Censo da Construção Civil Obramax 2023. O levantamento também indicou que o estado catarinense é o que oferece as maiores remunerações para a categoria, enquanto o Rio Grande do Norte é onde os profissionais ganham menos.
Entre maio de 2020 e novembro de 2022, a média salarial dos pedreiros no país cresceu 19,09%, chegando a R$2.007 mensais. O CAGED, Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, forneceu os dados, que apontam para uma divergência salarial média de R$590,63 entre as duas unidades da federação que pagam mais e menos, respectivamente R$2.199,15 e R$1.608,52.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a região Sul é a que oferece os maiores salários aos pedreiros com carteira assinada, variando entre R$2.014 e R$2.715. No Sul do país, sete das dez cidades onde os pedreiros têm os maiores salários estão localizadas. Itapema, Porto Belo e Balneário Camboriú lideram o ranking, com médias salariais que variam de R$2.449,34 a R$2.538,16. Essa região também possui os baixos índices de informalidade na profissão.
Cidades do Sul no Ranking
1º: Porto Belo (SC), média de R$ 2.538,16 e R$ 11,55 por hora trabalhada
2º: Itapema (SC), com média de R$ 2.535,64 e R$ 11,53 por hora trabalhada;
3º: Balneário Camboriú (SC), com média de R$ 2.450,20 e R$ 11,14 por hora trabalhada;
4º Palhoça (SC), com média de R$ 2.449,34 e R$ 11,14 por hora trabalhada;
7º: Bento Goncalves (RS), com média de R$ 2.350,88 e R$ 10,69 por hora trabalhada
9º: Passo Fundo (RS), com média de R$ 2.281,38 e R$ 10,41 por hora trabalhada;
10º: Caxias do Sul (RS), com média de R$ 2.276,21 e R$ 10,41 por hora trabalhada;
Informalidade
O IBGE aponta que o Rio Grande do Sul lidera o ranking nacional de informalidade entre os pedreiros, com 48,6% deles trabalhando sem carteira assinada. Em seguida, estão Santa Catarina e Paraná, com 49,9% e 58,9%, respectivamente.
Já a cidade onde as mulheres pedreiras têm a melhor remuneração é Joinville, em Santa Catarina, onde elas ganham 10,9% mais do que os homens na mesma profissão. Segundo Camila Alhadeff, líder da ONG Mulher Em Construção em São Paulo, o principal motivo é o fato de elas procurarem mais capacitação para exercerem a profissão.
A região Sudeste ocupa o segundo lugar na remuneração da categoria, com média salarial de R$2.071. As cidades que pagam melhor estão no Rio de Janeiro e em Patos de Minas, em Minas Gerais, com médias de R$2.417,34 e R$2.404,16, respectivamente.
Rio de Janeiro e São Paulo são os segundo e quarto colocados entre os estados, com rendimentos médios de R$2.178,97 e R$2.162,93. No entanto, a taxa de informalidade nesses estados é de de 54,6% e 67,1%, respectivamente.
68% dos pedreiros brasileiros são autônomos
Mais de dois terços dos pedreiros no Brasil são trabalhadores autônomos, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dos 7,5 milhões de trabalhadores do setor, apenas 3,2 milhões estão formalmente empregados sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). A informalidade é particularmente alta nas regiões Norte e Nordeste do país.
Apesar de muitos trabalhadores optarem por atuar de maneira autônoma, o uso de contrato por empreitada ainda é incomum neste mercado. Segundo estudo da Obramax, apenas 39,4% dos pedreiros utilizam esse tipo de contrato, e 20% desconhecem sua possibilidade.
O advogado Adriano Gonçalves destaca a importância do uso de contrato por empreitada no setor da construção civil, especialmente em relação à análise da obra a ser feita, ao material que será comprado, à pessoa que será contratada, à forma de pagamento e à duração da obra. O contrato também pode ser fundamental em caso de indenizações decorrentes de acidentes.
Os trabalhadores autônomos muitas vezes optam pelo regime de Microempreendedor Individual (MEI) para exercerem sua profissão. No entanto, o pedreiro Rafael Panssani aponta que esse regime pode gerar desafios, especialmente caso o profissional precise da cobertura do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). “A CLT faz falta porque você tem maior proteção quando acontece algum imprevisto e demora menos para receber o auxílio”, diz.
Por outro lado, o influenciador Josias Rodrigues, do canal JR Construção, destaca que o MEI pode ser vantajoso financeiramente, uma vez que não há descontos relacionados à CLT. Ele ressalta a importância da educação financeira para os pedreiros autônomos se beneficiarem desse modelo de trabalho.
Mão de obra é fator que mais influencia os custos da construção
O fator que mais influencia os custos da construção é a mão de obra, segundo especialistas do setor. Mesmo com um crescimento estimado de 4,5% em 2023, a desaceleração dos custos de construção é um alento para o setor. De acordo com a consultoria Prospect Analytica, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC-M) fechou o ano de 2021 com alta de 9,84%, enquanto em 2020 era de 13,85%.
A Coordenadora de Projetos de Construção da FGV-Ibre, Ana Maria Castelo, destaca que houve uma inversão dos fatores responsáveis pela alta de custos, com a mão de obra representando 11,76% do índice, enquanto materiais de construção correspondem a 7,23%. Em 2021, esses números eram, respectivamente, 21,45% e 6,95%.
Ela explica que a mudança ocorreu devido à crise econômica enfrentada no ano passado e aos acordos coletivos que aconteceram no primeiro semestre, em meio a uma inflação de dois dígitos.
Por sua vez, o Gerente do Sinapi, Augusto Oliveira, ressalta que a mão de obra representa entre 35% e 40% do valor de uma obra e que os aumentos salariais impactam diretamente nos custos. Ele afirma que quando há variações de alta em todas as categorias em um único mês, o impacto é ainda maior.
Profissionalização é o principal desafio dos pedreiros
Além dos desafios relacionados aos custos, a construção civil enfrenta a escassez de mão de obra qualificada, especialmente em especialidades como pedreiros, carpinteiros, mestres de obra e encarregados. De acordo com a Câmara Brasileira da Construção Civil, esse desafio é enfrentado por 90% das empresas do setor, que têm dificuldade de encontrar profissionais qualificados.
Para obter maior capacitação, algumas iniciativas oferecem cursos profissionalizantes gratuitos, como é o caso da Academia de Profissionais da Obramax.
Com mais de 27 mil alunos, 68% deles fizeram mais de um curso. Entre eles, está o eletricista Thiago Lacerda, de 36 anos, que destaca a importância dos cursos para adquirir mais conhecimento e ter autonomia para resolver problemas.
O técnico em manutenção, Kleber Kiyoto, de 45 anos, vê a educação como um fator central para conquistar mais clientes e aprimorar suas habilidades. “Uma obra deixa muitas coisinhas para resolver e é aí que eu entro. Esses cursos me ajudam a entender melhor como resolver os problemas mais rápido”, diz.
Apesar dos desafios, o cenário para a construção civil é positivo, com uma projeção de crescimento de 4,5% em 2023. Para Ana Maria Castelo, apesar dos reflexos do apagão educacional no setor, esse fator não é preponderante para limitar o crescimento ou influenciar os custos. Ela ressalta que o cenário se mostra benigno.
Com informações de Jornal Razão