15 anos de paz: Oito cidades de SC celebram ausência de homicídios

Nas margens da SC-451, a primeira vista do município de Frei Rogério é um cemitério. Porém, essa cidade do Meio-Oeste catarinense de aproximadamente 2,4 mil habitantes surpreende. Frei Rogério, que testemunhou conflitos durante a Guerra do Contestado na década de 1910, não teve registros de homicídios nos últimos 15 anos, conforme apontam os dados da Polícia Civil de Santa Catarina. As informações são de NSC Total.

Anny Reis, residente local, comenta sobre a tranquilidade do município: “Crianças frequentemente brincam nas ruas e carros e casas são comumente deixados abertos sem chaves”. Esta segurança é uma característica valorizada pelos moradores que escolheram Frei Rogério como lar.

Além deste município, sete outros em Santa Catarina mantêm seu índice de mortes violentas em zero por quase 20 anos. De acordo com a Polícia Civil, o balanço considera os homicídios e feminicídios registrados desde janeiro de 2008, data em que os números começaram a ser contabilizados oficialmente no Estado.

Entre 1º de janeiro de 2008 e 19 de outubro de 2023, o Estado registrou 11.365 mortes. Deste total, Joinville, Florianópolis e Chapecó lideram a lista com, respectivamente, 1.220, 1.074 e 536 casos.

Por outro lado, 17 municípios em Santa Catarina tiveram somente uma morte violenta ao longo desses anos. São João do Oeste, por exemplo, registrou seu último homicídio em 2008, enquanto Laurentino e Zorteá em 2009.

Destaca-se que Lacerdópolis e Tigrinhos ficaram 13 anos sem qualquer registro de morte violenta, tendo seus últimos casos em 2022. Já oito municípios, incluindo Frei Rogério, não contabilizam homicídios por, pelo menos, 15 anos.

Municípios de pequeno porte em SC e a relação com baixos índices de criminalidade

Localizados, em sua maioria, no Oeste de Santa Catarina, diversos municípios possuem uma média populacional de 2,9 mil habitantes, segundo dados do Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre eles, destaca-se Ouro com a maior população, contando com 7.032 residentes.

Guilherme Stinghen Gottardi, advogado da Comissão de Segurança, Criminalidade e Violência Pública da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Santa Catarina, aponta essa média populacional como um dos determinantes para os baixos índices criminais. Ele enfatiza que a estreita relação entre os membros da sociedade em municípios menores gera um controle mais eficaz, o que pode inibir ocorrências violentas. “Esses lugares, geralmente, não enfrentam grandes vulnerabilidades sociais, diferentemente de grandes centros urbanos”, observa.

Em pequenas cidades, crimes registrados frequentemente estão relacionados a pequenos furtos ou perturbações. Na visão de Gottardi, estes geralmente não evoluem para situações de violência grave.

Corroborando essa perspectiva, Anny Reis, natural de Frei Rogério, comenta sobre sua experiência no município. Segundo ela, os incidentes mais graves que já presenciou se restringem a desentendimentos em estabelecimentos, mas essas situações não comprometem seu sentimento de segurança. “O que se vê são discordâncias em ambientes como bares ou questões familiares, geralmente resolvidos rapidamente. Furtos ocasionais acontecem, o que impacta especialmente quem possui menos recursos ou agricultores, mas ainda assim, sinto-me segura vivendo e educando meus filhos aqui”, relata.

Ação conjunta entre segurança e gestão municipal reforça baixa criminalidade

A sinergia entre as forças de segurança e as administrações municipais tem mostrado resultados positivos em termos de segurança pública. De acordo com o advogado Guilherme Stinghen Gottardi, a colaboração entre estes setores facilita a orientação à comunidade e a implementação de operações para assegurar a ordem.

Gottardi destaca a eficiência de programas como a “rede de vizinhos”, que envolve a população na prevenção de delitos. “Nessas localidades, a própria comunidade desempenha um papel preventivo diante de possíveis crimes”, menciona.

Ele sugere que tal prática poderia ser útil até mesmo em metrópoles, onde enfrentar a criminalidade se mostra mais complexo. “Adotar esse tipo de cooperação em cidades maiores pode ser uma estratégia viável”, observa.

O município de Serra Alta serve como ilustração desse modelo colaborativo. Lá, a Polícia Militar e a prefeitura unem forças no monitoramento urbano. A sede deste monitoramento está em um edifício disponibilizado pelo governo local à polícia. Adicionalmente, ações são desenvolvidas nas escolas da cidade com foco na prevenção ao uso de drogas.

Rafael Marin, prefeito de Serra Alta pelo partido União Brasil, enfatiza a ênfase dada à educação como medida de prevenção. Ele menciona o projeto Proerd, desenvolvido em parceria com a Polícia Militar, como uma das iniciativas nesse sentido. “Nosso investimento prioritário é na educação e no esporte para nossos jovens”, relata.

Marin, que cresceu em Serra Alta, recorda que o último homicídio que testemunhou na cidade foi há mais de três décadas. Desde então, o município de 3,3 mil habitantes não registrou episódios de violência. Ele credita os bons resultados, em grande parte, ao compromisso com a educação.