O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) divulgou na segunda-feira (15) o relatório que traz informações cruciais sobre as últimas comunicações entre os pilotos e a torre de comando antes do acidente trágico que resultou na morte da cantora Marília Mendonça e outras quatro pessoas.
Segundo o relatório, um piloto de outra aeronave que se aproximava para pouso em Caratinga (MG) relatou que ouviu as comunicações da tripulação do avião de Marília e afirmou que não percebeu nenhuma diferença ou alteração nas transmissões, sugerindo que tudo estava normal até aquele momento.
Outro piloto que também se dirigia a Caratinga informou que a tripulação do avião da cantora realizou três reportes na frequência livre. No primeiro reporte, eles informaram que estavam a 44 milhas náuticas de distância. No segundo, comunicaram que estavam na perna do vento da pista, ou seja, paralelamente à pista em uso, no sentido contrário ao do pouso. No último reporte, cerca de 30 segundos após a segunda comunicação, o piloto informou novamente que estavam na perna do vento da pista 2. Após esse último contato, não houve mais comunicações.
O acidente ocorreu durante a descida para o pouso, quando o avião colidiu com os cabos de aço de para-raios da linha de transmissão da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). O relatório do Cenipa revela que as gravações das comunicações iniciaram às 17h49min25s, momento em que houve a transferência de setor. O controle aéreo instruiu a aeronave a manter o voo e solicitar autorização para a descida quando estivesse pronta.
Por volta das 17h56min59s, o controle informou à aeronave que o serviço de radar estava encerrado e solicitou que reportassem as condições meteorológicas visuais para modificar o plano de voo. O avião afirmou que iria cruzar o nível de voo, estava em condições visuais e propôs o cancelamento do plano de voo por instrumentos. No último contato com o centro de controle, às 17h57min, a torre de comando confirmou o cancelamento do plano de voo por instrumentos e informou que não tinha conhecimento de nenhum tráfego que interferisse na descida da aeronave, liberando-a da frequência daquele centro de controle.
O relatório aponta que houve uma “avaliação inadequada” por parte do piloto. Segundo o documento, ele demorou para realizar uma curva de aproximação da pista, o que o colocou em rota de colisão com as linhas de transmissão.
“É provável que, com base na experiência de 10 anos de operação em empresa regida pelo RBAC 121, a memória processual do PIC tenha influenciado suas decisões tomadas em relação à condução da aeronave. O hábito de realizar aproximações com final longa em outro tipo de operação pode ter ativado sua memória processual, envolvendo as atividades cognitivas e habilidades motoras, tornando as ações automatizadas em relação ao perfil executado no acidente”, detalha o Cenipa.