Parece roteiro de filme. Cientistas ‘descongelaram’ vírus congelados há milhares de anos para estudá-los. O objetivo, segundo os pesquisadores, é de que esta é uma forma de impedir que o irreversível degelo do hemisfério Norte da Terra, impacto do aquecimento global, surpreenda a humanidade com uma pandemia causada por “vírus zumbis”.
Foi o que pesquisadores da Universidade de Marseille, na França, realizaram com amostras antigas de patógenos adormecidos há 48,5 mil anos presentes em permafrost, um tipo de solo permanentemente congelado, da Sibéria. O grupo constatou que os vírus permaneciam com potencial para causar infecções.
A pesquisa, publicada na plataforma BioRxiv, se concentrou em sete amostras contendo 13 novos vírus isolados e que infectam um tipo de ameba chamada Acanthamoeba spp. Ela foi escolhida por funcionar como uma isca para vírus com potencial infeccioso, mas sem oferecer riscos para as culturas, animais ou humanos. Por mais que pareça assustador reviver patógenos adormecidos, o procedimento utiliza padrões avançados de biossegurança.
Poucos estudos se aventuraram em investigar bactérias, vírus e outros microrganismos adormecidos por estarem congelados a até um milhão de anos. O grupo francês pesquisou o tema em 2014 e 2015 com amostras inertes por 30 mil anos e, esta análise, apresentada neste mês, é considerada um avanço: a amostra foi maior e os vírus estavam adormecidos há mais tempo do que nas avaliações anteriores.
“Este estudo confirma a capacidade de grandes vírus de DNA que infectam Acanthamoeba permanecerem infecciosos após mais de 48.500 anos passados em permafrost profundo”, escreveram os autores sobre os achados.
Os cientistas afirmaram que é sabido que uma epidemia causada por uma “bactéria pré-histórica”, em um episódio de degelo, poderia ser controlada com o arsenal de antibióticos que a humanidade tem à disposição. O problema seria a disseminação de um vírus. “Como infelizmente bem documentado por pandemias recentes (e em andamento), cada novo vírus, mesmo relacionado a famílias conhecidas, quase sempre requer o desenvolvimento de respostas médicas altamente específicas, como novos antivirais ou vacinas”, alertaram.